A Yduqs, segundo maior grupo de ensino superior do país, está aumentando a aposta nas plataformas digitais. A companhia inaugurou em abril uma sede na cidade do Rio de Janeiro para a EnsineMe, divisão de negócio com foco em pesquisa e produção de metodologias e conteúdos digitais criada em 2019. A sede tem cinco estúdios de gravação, salas de observação de aprendizagem e uma “fábrica” de conteúdo. O investimento, de R$ 3,5 milhões, faz parte dos mais de R$ 100 milhões que a Yduqs pretende destinar ao sistema até o fim do ano que vem.
“Eu falava aos meus alunos: ‘Leiam tais capítulos para a próxima aula’, mas ninguém lia. No material digital eu consigo ver quem acessou o sistema. O nível de engajamento da aula muda completamente”, observa Eduardo Parente, presidente da Yduqs. O EnsineMe tem cerca de 250 funcionários, com perfis que vão de pós-doutores em tecnologia e educação a designers especializados em tornar ferramentas digitais mais fáceis de usar. Nos próximos anos, a meta é desenvolver sistemas acadêmicos orientados por “big data”, com aplicações de inteligência artificial que permitam uma aprendizagem no ritmo de cada estudante.
A inspiração da EnsineMe, conta o executivo, foi o mercado americano. Lá, algumas universidades oferecem sistemas de ensino para outras instituições, de forma parecida ao que grupos fazem no ensino básico privado no Brasil, como a Arco ou a Vasta Educação, do grupo Cogna. Além da Vasta Educação, ao se reestruturar no fim de 2019, a Cogna criou oficialmente uma divisão de negócios voltada aos serviços de ensino superior a distância, a Platos, cujo desenvolvimento começou em 2017.
A Platos produz conteúdo digital para as universidades da Cogna, mas também passou a ofertar serviços a instituições de ensino de fora do grupo em 2020, quando assinou três contratos. A meta de 2021, diz a empresa, é acelerar a captação de alunos de pós-graduação das universidades sob o guarda-chuva da Kroton, sua divisão de ensino superior, e conseguir mais contratos com terceiros.
A ideia inicial da Yduqs também era de oferecer serviços de ensino digital a outras instituições de ensino superior, mas os planos mudaram assim que a divisão começou a ser estruturada. A visão é de que há muito a explorar na base de aproximadamente de 750 mil alunos do grupo.
“Nós temos um grande mercado dentro de casa e não tem porque favorecer outras cadeias de ensino. Percebemos que para fora não valia [a pena]. Fizemos testes, mas vimos que o mercado não entende direito e tem muito menos dinheiro a ganhar vendendo para outros do que ganhando market share”, argumenta Parente.
O teste do uso das ferramentas da EnsineMe foi com uma das turmas de calouros da Estácio ainda em 2019. Elas passaram a ser adotadas para todos os calouros do ensino a distância (EAD) e para os novos alunos do ensino presencial. De janeiro a abril, os índices de satisfação dos alunos do EAD e presencial cresceram 21 e 17 pontos percentuais, respectivamente – resultado atribuído pelo grupo, em grande parte, ao uso do conteúdo e das ferramentas da EnsineMe.
Para a Yduqs, a EnsineMe também tem muito a crescer no segmento que a companhia nomeia de “vida toda”, ou seja, cursos de especialização e pós-graduação. A receita dessa categoria aumentou 37% no passado ante 2019, para R$ 175 milhões. Para o segundo semestre, a empresa conseguiu desenvolver 15 cursos de graduação, 48 cursos livres além de cursos de pós-graduação para seis marcas de seu portfólio de instituições de ensino.
A aquisição de ativos premium de ensino também é vista como estratégica para o crescimento da divisão digital. No ensino on-line, afirma Parente, o custo da contratação de um professor altamente qualificado é diluído, já que o conteúdo pode ser distribuído a mais alunos e usado por mais tempo. “Percebemos que ter um ativo de ensino de elite aceleraria isso. No ano passado, compramos o Ibmec, que é o grande abastecedor desse sistema hoje.”
O objetivo é “surfar a onda” do aumento dos índices de satisfação e convencer sua base de alunos a seguir estudando em instituições do grupo, diz o presidente da Yduqs. Além disso, a iniciativa vai integrar cada vez mais o conteúdo e a metodologia à matriz de ensino dos alunos veteranos.
Mas a Yduqs não deixa de olhar para fora de seus muros. Em 2020, em parceria com a Eleva, de educação básica, a empresa criou a plataforma Resolve Sim para oferecer suporte acadêmico e preparação para o Enem, gratuitamente, a alunos do ensino médio. A EnsineMe também criou uma série de aulas em vídeo sobre a covid-19 destinadas a profissionais de saúde da rede pública. Com experiências como essas, a Yduqs avalia, para o futuro, também comercializar cursos de curta e média duração em uma plataforma exclusiva, similar à plataforma de cursos on-line Coursera.
Fonte: Valor Econômico