Se ainda não é prática comum a todo o mundo corporativo, a sigla em inglês ESG, ou ASG em português (Ambiental, Social e Governança), a longo prazo será questão de sobrevivência para empresas no mundo todo. Demonstrar responsabilidade social em iniciativas de preservação do meio ambiente, combate aos preconceitos e defesa de políticas de governança responsáveis é visto pela sociedade como uma obrigação dos agentes econômicos. Não apenas por imperativo ético, mas também para atender aos acionistas, já que consumidores indignados nas redes sociais podem incentivar boicotes que derrubam os lucros.
No caso do Brasil, os indicadores socioeconômicos alertam sobre o muito que as empresas ainda têm a fazer pela igualdade racial no mercado de trabalho, já que, ressalvadas as obrigações legais, os critérios de seleção de funcionários raramente levam esse fator em conta.
O estudo “Desigualdade social sob a ótica do índice de equilíbrio racial” – feito pelo Núcleo de Estudos Raciais do Insper com dados da Pesquisa Nacional de Domicílios Contínua do IBGE entre 2012 e 2019 – mostra a disparidade entre brancos e negros nos principais indicadores de renda e escolaridade: brancos têm média de 9,6 anos de estudo, negros, 8,1; no caso dos salários, a diferença é de R$ 3.071 para R$ 1.573; no percentual de desempregados, 9,2% para 13,6%. “O desequilíbrio racial na população com ensino superior diminuiu consideravelmente”, diz o estudo. “Entretanto isso ainda não se refletiu em melhora na desigualdade racial nos rendimentos.”
Levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) revela que a proporção de pretos, pardos e índios nas universidades brasileiras triplicou de 1999 para 2019, passando de 15% para 46%. Em 2019, o percentual de estudantes negros nas universidades públicas chegou a mais da metade (50,3%). Isso ainda não mudou o essencial: a população branca recebe rendimento-hora superior à população preta ou parda para qualquer nível de instrução. A diferença salarial maior (44,3%) está na camada com nível superior completo, R$ 33,90 ante R$ 23,50, segundo a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE.
O país está longe de alcançar a Sustentabilidade Racial, nome do projeto lançado na semana passada pelo Ministério Público do Trabalho para combater a desigualdade no mercado de trabalho. Entre os objetivos, está disponibilizar dados para orientar o combate ao preconceito, incentivando empresas a avaliar se o percentual de negros em cargos de comando sugere racismo.
Enquanto o avanço na formação dos negros não corresponder a mais vagas e melhor remuneração, falar em ESG será marketing inútil. E sinal de incompetência gerencial. O que está em pauta não é paternalismo, e sim meritocracia.
Fonte: O Globo