Nos últimos anos foram observados vários movimentos no setor privado de educação superior. Fusões, aquisições e abertura de capital turbinam o mercado, especialmente por uma razão: Medicina.
Considerada a “joia da coroa” do ensino superior particular, o setor de Saúde – mas sobretudo os cursos de graduação em Medicina – responde por uma parcela significativa das aquisições recentes. Em 2020, motivou a Ânima a comprar as IES da Laureate, além do baiano UniFG e da mineira Faseh. Em abril, levou a Ser Educacional a concluir a aquisição da Unifasb, da Bahia. No ano passado, a Ser já tinha adquirido a Unifacimed e a Unesc, ambas em Rondônia.
É a medicina que também responde pelo case da Afya, avaliada em mais de R$ 12 bilhões na Nasdaq e que, em maio, anunciou a compra da fluminense Unigranrio.
São basicamente quatro razões.
Primeiro, o tíquete médio. O curso de Medicina é o mais caro do Brasil. Se quiser ser um médico, o brasileiro precisa desembolsar entre R$ 5 mil e R$ 16 mil por mês. O custo elevado se justifica pelo investimento. “A estrutura que uma faculdade de Medicina precisa dispor é muito maior do que a de qualquer outra, pois exige muitas tecnologias nas diversas etapas do curso”, explicou Fabio Freire, professor de ciências médicas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ao Desafios da Educação.
A segunda razão é que, por causa do valor da mensalidade, Medicina também é a graduação mais rentável do ensino superior – inclusive com preenchimento quase total das vagas.
Terceiro: é um curso com baixa taxa de evasão e inadimplência.
Por fim, cabe lembrar que desde 2018 está em vigor uma decisão do Ministério da Educação (MEC) que suspendeu por cinco anos a criação de cursos e novas vagas de Medicina, “em nome da preservação da qualidade do ensino”. Nas últimas duas décadas, foram criados 247 cursos de Medicina – 84 só nos últimos cinco anos. Esse número representa o dobro das 104 escolas médicas inauguradas nos séculos 19 e 20 no Brasil. Dos 247 novos cursos, 73% são privados.
A combinação desses quatro fatores é o que leva os grupos universitários a pagar centenas de milhares de reais por cada futuro médico. Segundo estudo da Ondina Investimentos, boutique de fusões e aquisições do Recife, R$ 1,4 milhão é o valor médio pago pelos grandes grupos por cada vaga em faculdade médica no Brasil.
Em termos de valor de mercado dos grupos educacionais na bolsa de valores, cada vaga de Medicina equivale a cerca de R$ 2,9 milhões. A média dos outros cursos na B3 é de R$ 20 mil.
O levantamento da Ondina considerou 13 aquisições feitas entre agosto de 2019 e 2020. A maior parte delas ocorreu no Norte e Nordeste, onde há déficit de médicos. Apesar de concentrar 27,6% da população brasileira, o Nordeste tem apenas 17,8% dos médicos. No Norte, onde vive 8,6% dos brasileiros, o percentual é de 4,6%.
A nova disputa do momento, no entanto, fica no Centro-Oeste. É pelo Centro Universitário de Brasília (Ceub), cujo principal ativo é o curso de Medicina e seus 750 alunos, que todos os meses desembolsam cerca de R$ 8,5 mil. O negócio é disputado por Ânima e Yduqs.
Um relatório do Bradesco BBI, de 2019, já dava conta de que o crescimento do setor de educação superior seria puxado pelas graduações em Medicina. Mas não só isso: a expansão também se daria por meio do ensino a distância (EaD).
Essa tendência se intensificou depois da pandemia. O interesse pela graduação presencial, cuja mensalidade é três vezes maior em relação ao EaD, arrefeceu em razão da crise econômica e sanitária. Isso levou os estudantes a adiarem o ingresso no ensino superior ou a migrarem para o modelo online.
De fato, os cursos virtuais atraem mais estudantes do que os presenciais atualmente. O volume de novas matrículas no primeiro semestre de 2021 cresceu 9,8% no EaD, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Já o ensino presencial retraiu 8,9%, segundo dados do Mapa do Ensino Superior 2021, divulgado em junho pelo Instituto Semesp.
Por fim, a oferta de cursos EaD é uma oportunidade de ouro para instituições de ensino. Antes de sair ofertando cursos EaD, contudo, é preciso credenciar a IES no MEC. A autorização (ou não) da modalidade é dada após a visita de uma comissão avaliadora. O processo tem várias etapas, cada uma com exigências específicas a que a IES deve atender.
Fonte: Desafios da Educação