Uma das missões de qualquer instituição de ensino superior (IES) é encontrar maneiras de inovar no processo de ensino aos alunos. Ao mesmo tempo, a instituição precisa mirar na sustentabilidade financeira de longo prazo. Como atingir os dois objetivos – educacional e monetário? Metodologias ativas.
A sala de aula invertida e a aprendizagem baseada por projetos, por exemplo, são duas metodologias ativas que reduzem gastos com infraestrutura física e carga horária dos professores. Isso sem prejudicar o mais importante: o desempenho do estudante.
A partir dessa estratégia, a redução nas contas das IES depende de uma série de fatores. Entre eles, o porte da instituição, o modelo metodológico e o grau de utilização de tecnologias. Mas não há dúvidas. Se bem formatadas, as metodologias ativas impactam positivamente nas finanças de faculdades, centros universitários e universidades.
Um dos principais arranjos permitidos pelas metodologias ativas acontece na carga horária dos professores. Isso porque a lógica de funcionamento da sala de aula invertida e do ensino por projetos não exige que docentes e alunos dediquem o mesmo tempo às disciplinas.
Na sala de aula invertida, o aluno acessa os conteúdos no ambiente virtual de aprendizagem (AVA ou LMS, na sigla em inglês) onde e quando quiser. Os encontros presenciais são reservados para tirar dúvidas e colocar em prática os conhecimentos estudados previamente. Apenas o segundo momento requer o professor.
Nesse caso, uma dica é estruturar disciplinas com 120 horas de carga horária para os alunos, mas apenas 60 horas para o professor. Assim, além de reduzir custos com o honorário dos docentes, a IES economiza em infraestrutura física e contas fixas, como energia elétrica, aluguel e água.
Uma pesquisa realizada pelo diretor da Plataforma A, Gustavo Hoffmann, na Universidade de Harvard, provou que a sala de aula invertida traz resultados pedagógicos. No estudo, dois grupos de alunos brasileiros foram acompanhados por seis meses. Metade foi submetida ao ensino 100% expositivo tradicional. Outra metade ao modelo híbrido de sala de aula invertida.
“Com a metade do tempo em sala de aula, o segundo grupo aprendeu, em média, 9% a mais. Isso mostra que as metodologias ativas que colocam o aluno como protagonista do aprendizado são muitos mais eficientes”, afirma Hoffmann. “E, sem dúvida, elas diminuem as despesas operacionais, reduzindo o custo do sistema.”
Na aprendizagem baseada em projetos, a carga horária do professor também pode ser menor. Afinal, seu papel é de mediador da aprendizagem. É o aluno quem assume o protagonismo no desenvolvimento dos projetos, o que pode ser feito fora dos muros da escola ou universidade e com o apoio de tecnologias digitais.
Os projetos integradores ainda abrem a possibilidade de um professor orientar alunos de diversos cursos. Principalmente, em áreas afins, como entre engenharias e entre cursos da área da saúde. Em vez de quatro professores, um para cada curso, é possível ter dois professores atendendo a um grupo de disciplinas comuns voltadas aos projetos.
“As instituições têm um ganho objetivo com redução de 50% nos custos diretos da disciplina”, explica o gerente de negócios e inovação da Plataforma A, Fábio Paz. “Ao mesmo tempo, promovem a interdisciplinaridade, estimulando o desenvolvimento de soft skills e integrando todos os conteúdos do semestre.”
Um dos responsáveis por implementar esse modelo no Centro Universitário da Região da Campanha (Urcamp), onde foi vice-reitor, Paz defende que os projetos integradores sejam utilizados estrategicamente. Isso passa pela montagem de disciplinas direcionadas aos projetos integradores em todos os semestres, em todos os cursos.
Na visão dele, a tecnologia entra como aliada nesse processo. Fica mais barato, por exemplo, contratar conteúdo dedicado às metodologias ativas do que montar uma estrutura interna de produção para abastecer o AVA. Dessa maneira, mais uma vez, qualidade e menor custo aparecem lado a lado.
“Não é apenas sobre redução de gastos. Metodologias ativas, como o ensino por projetos e a sala de aula invertida, trazem ganhos financeiros. Afinal, a IES capta e retém mais alunos, pois, botando a mão na massa, eles ficam mais engajados na aprendizagem”, analisa Paz. “Essa é uma mudança de paradigma pela qual muitas instituições estão passando”.
Fonte: Desafios da Educação