Como ficará a formação dos professores em meio aos desafios impostos pela pandemia? Essa é uma questão de debate entre especialistas, tendo em vista as grandes transformações decorrentes da crise sanitária, em nível mundial, com efeitos em muitos aspectos da vida social. É o tema de reflexão de Ítalo Francisco Curcio, doutor e pós-doutor em Educação e pesquisador no curso de Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, no artigo “Formação de professores em tempo de pandemia, um desafio”, destacando que “a súbita necessidade da utilização de recursos tecnológicos digitais, com meios remotos de comunicação, proporcionou aprendizados importantíssimos em tão pouco tempo, que, não fosse a crise, talvez levar-se-iam anos para serem obtidos. Por isso, em meio à pandemia, muito se aprendeu e os professores, formadores de professores, estão entre estes aprendizes. Resultado: os próprios alunos destes professores, futuros professores, oxalá pós-pandemia, terão sido formados não só com uma fundamentação teórica, como costumava ser antes da hecatombe, mas também com uma prática efetiva, uma prática de metacognição”.
A pandemia, portanto, tornou a crise em oportunidade de novos aprendizados e incorporação de novas práticas que procuram dar respostas mais efetivas às novas demandas existentes. E acrescenta: “Os currículos dos cursos de licenciatura, como são chamados os cursos de formação de professores no Brasil, já possuíam e continuam a possuir ensaios, práticas docentes simuladas, estágios etc.” A formação dos professores, nesse contexto, é importante que ocorra para que os educadores compreendam a realidade em que vivemos e estejam preparados para lidar com os atuais desafios.
É preciso que haja compreensão do que está acontecendo, tendo em vista que o avanço da quarta revolução industrial, em curso já há décadas, uma transformação na sociedade muito mais revolucionária do que as anteriores. A escola, de algum modo, deve refletir tais mudanças, buscando evidentemente evitar que o progresso tecnológico (e também biotecnológico) desumanize. Aí está o desafio maior: conciliar a tecnologia com a promoção do ser humano. E a escola deve desempenhar essa missão, pois a Educação existe – desde os tempos primevos – para valorizar a pessoa humana. A formação dos professores deve, portanto, estar voltada para isso, não perdendo de vista sua verdadeira finalidade social. Diante disso, lembra Catarina Pontes, “a formação holística de professores é um assunto de extrema importância e merece ter atenção e cuidado especiais, não só por parte dos próprios docentes, mas ser reforçada e encorajada por gestores escolares da mesma forma.
Concordo com Rubem Alves quando ele dizia que ” a questão crucial da educação é a formação do educador – como educar os educadores”?”. E ressalta: “A necessidade de apoio ao professor com relação à formação vai muito além da parte técnica, especialmente durante o momento atual”. A parceria entre a instituição e o professor, com a oferta de momentos de desenvolvimento e oportunidades de crescimento, só contribuirão para que alunos tenham uma melhor experiência de aprendizado. Nesse sentido acrescenta Catarina Pontes: “É preciso que professores continuem tendo oportunidades de aprender, desaprender e reaprender, com sua formação sendo levada a sério e sempre ressignificando o processo de ensino aprendizagem, inspirando, assim, o mesmo comportamento nos alunos para a transformação da educação”.
Dentre os maiores desafios no campo da Educação, em meio a toda crise em que vivemos, está a formação dos professores. “Dentro do desafio de preparar os novos professores, a formação também deve incorporar a tecnologia e as novas linguagens”, afirma Marina Lopes. E observa: “Um bom docente tem um papel fundamental na vida do seu aluno. A decisão sobre como deve ser a formação dos professores gera impacto no projeto educacional de qualquer nação. Com as mudanças constantes nas formas de aprender e ensinar, os cursos de licenciatura devem preparar os futuros professores para dialogarem com a nova realidade da sala de aula, atuando como mediadores e designers de aprendizagem”. Por isso, precisamos não só estarmos atentos, mas também atuantes para que professores e demais profissionais da Educação tenham a melhor e mais holística formação para os desafios do tempo presente.
Valmor Bolan – Doutor em Sociologia e professor da UNISA
Fonte: Jornal O Estado – Fortaleza