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Não é segredo que a água é essencial à vida, porém, o desperdício e o uso cada vez maior do recurso tem preocupado biólogos, ambientalistas e a população em geral. No caso de Araraquara, apesar de estar situada sobre o Aquífero Guarani, é preciso estar atento à utilização racional da água. O professor do curso de Biologia da Universidade de Araraquara – Uniara, João Carlos Geraldo, fala sobre o Aquífero e sobre a extração de água em geral, e alerta para os cuidados necessários para preservá-los.

“Um aquífero é uma área no subsolo na qual há rochas permeáveis, isso é, que permitem que a água se infiltre por seus poros e fraturas, e ali fique armazenada, o que é muito importante no suprimento de cursos d’água superficiais – nascentes, riachos e rios. Além de fornecer água para aqueles permanentes, ajuda a evitar seus transbordamentos durante a estação das chuvas”, explica o docente.

Ele comenta que o Aquífero Guarani é uma dessas zonas subterrâneas de armazenamento de água, e sua abrangência se estende por partes da Argentina, do Brasil, Paraguai e Uruguai, com uma área de 1,2 milhões de km². “É um dos maiores e mais importantes do mundo. Em nossa região, o principal tipo de rochas armazenadoras de água do aquífero são os basaltos, cobertos por arenitos”, destaca.

O usufruto das águas subterrâneas, de maneira geral, é feito, em maior quantidade, por grandes cidades, “pois não dispõem mais de cursos d’água com capacidade de abastecê-las, seja pelo volume que é consumido ou por apresentarem condições impróprias para o consumo, por contaminação ou poluição. Assim, perfuram mais poços e extraem mais água do subsolo. No entanto, muitas cidades menores também já extraem água diretamente de lá, por meio dos chamados poços artesianos ou semi-artesianos, por necessitarem de mais água do que os corpos d’água que cortam os municípios oferecem, também por pouco volume ou poluição, principalmente, por defensivos agrícolas”, aponta Geraldo.

O Aquífero Guarani tem sido prejudicado pelo homem há algum tempo, e seu processo de degradação aumenta gradativamente. “A extração muito intensa de água do subsolo é um problema que vem ocorrendo principalmente por causa do volume de retirada ser, por vezes, maior que o de reposição. O armazenamento nos aquíferos depende não somente do tipo de rochas, mas também das características do clima regional, do uso do solo e das atividades econômicas. De maneira geral, a agricultura é a maior consumidora de água, seguida pela atividade industrial e, depois, pelo consumo doméstico. Mas isso varia um pouco de uma região para outra. No estado de São Paulo, o uso agrícola perde para o industrial e o doméstico. Destacamos o fato de São Paulo ter a maior população entre os estados, portanto, é mais urbanizado. Além disso, também concentra mais atividades industriais”, detalha o professor.

Outro problema que vem sendo detectado, de acordo com ele, é a contaminação dos lençóis subterrâneos por produtos químicos decorrentes de uso agrícola ou industrial, que vão infiltrando junto com a água. “Poços artesianos sem a devida manutenção também podem ser pontos de entrada de contaminantes. Já com o crescimento de áreas urbanas, há a pavimentação de ruas e terrenos, o que impede a reposição da água por infiltração, aumenta o escoamento para os rios e causa inundações e alagamentos. Dessa maneira, o lençol d’água sob as áreas urbanas tende a rebaixar. E temos, ainda, a ocupação das áreas onde anteriormente havia vegetação de cerrado, substituída por plantações de cana e eucaliptos. Essas culturas retiram bastante água do solo, pelo seu rápido crescimento. Os cerrados ocupavam as áreas arenosas sobre os arenitos porosos, que filtravam e conduziam a água para o subsolo”, menciona.

Há, ainda, estudos recentes, como o docente cita, que demonstram que a retirada excessiva e contínua de água do subsolo pode causar pequenos tremores, “pelo ajustamento das rochas, já que, sem a pressão que a água exerce, esses blocos se movimentam”. “E tem o caso clássico do ‘Buraco de Cajamar’, na Grande São Paulo, no qual houve o afundamento do solo, o que resultou em uma cratera de cinquenta metros de diâmetro e treze metros de profundidade, que engoliu oito casas na cidade. Entre os fatores do afundamento, consta a retirada excessiva de água pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP e por uma fábrica de bebidas”, recorda-se.

Para a preservação do Aquífero, Geraldo afirma que seriam necessárias medidas de redução de consumo, reutilização de águas servidas e revegetação de margens de córregos, nascentes e rios. “Nas áreas rurais, como não é possível parar o uso agrícola, pelo menos a delimitação das áreas exigidas pelo Código Florestal e o plantio de vegetação nativa já contribuiria para minimizar os problemas. E temos a questão em discussão, do uso incorreto e excessivo de defensivos agrícolas, fator de contaminação já citado”, relembra.

A mudança de hábitos de desperdício de água talvez seja a parte mais difícil, segundo o docente, “já que envolve programas de conscientização, educação ambiental e aplicação de multas”. “Infelizmente as pessoas só aprendem a economizar água sob pressão econômica. No Sudeste, nunca houve falta de água, como no interior do Nordeste, por exemplo, e isso levou a população da primeira região a um hábito de desperdício desse recurso tão importante”, completa.

O professor ressalta que áreas verdes sem pavimentação, dentro das áreas urbanas, ajudam na infiltração e na melhoria da qualidade do ar. “Os antigos quintais vêm sendo ocupados por construções, e esse fator contribui para a diminuição dos processos. Além disso, temos uma perceptível mudança nos padrões climáticos, com maior extensão do período sem chuvas. Chove o mesmo tanto, mas em tempo menor, o que aumenta o escoamento e diminui a infiltração. Associado ao hábito de desperdício e padrões de urbanização, a escassez da água tende a aumentar”, alerta.

A conscientização quanto à preservação do Aquífero, e ao uso da água em geral, é um ponto vital para a sobrevivência. “As pessoas tendem a ver esse recurso como algo infinito, mas é preciso pensar que a população mundial vem aumentando, e a água é essencial à vida. Em algumas regiões do mundo, ela é escassa, e há uma tendência à sua utilização mais racional. Não se conhece forma de vida alguma que dispense totalmente a água. Alguns organismos, vegetais ou animais adaptaram-se à baixa disponibilidade, mas não à inexistência de água”, finaliza Geraldo.

Informações sobre o curso de Biologia da Uniara podem ser obtidas no endereço www.uniara.com.br ou pelo telefone 0800 55 65 88.

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