Com a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e o planejamento para um 2022 com menos restrições decorrentes da pandemia, muitos brasileiros pensam em retomar os estudos, o que faz as empresas do setor de educação terem boas expectativas.
Porém, tais companhias enfrentam desafios por estar em um segmento bastante afetado pelo aumento da taxa de juros e da inflação.
As seis empresas do setor listadas na Bolsa apresentam resultados negativos no acumulado anual. Enquanto o Ibovespa cai 10,97% no ano, as ações da Cruzeiro do Sul (CSED3) chegam a cair 46,15% desde fevereiro, mês do IPO. Os papéis da Bahema (BAHI3) são os menos desvalorizados. Ainda assim, registram queda de 21,34% no acumulado anual.
Outras quatro empresas brasileiras do setor estão listadas na Nasdaq, bolsa de tecnologia dos Estados Unidos. Lá, os papéis também estão cotados no negativo considerando o acumulado anual. Para analistas ouvidos pelo E-Investidor, a tendência é preocupante por ser um setor dependente do cenário macro ainda marcado por incertezas e volatilidade, mas há possibilidade de compras entre os ativos.
Por ser um setor bastante sensível às condições econômicas, Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, explica que os papéis do segmento ficam em segundo plano em cenários macroeconômicos desfavoráveis. É que o gasto com educação vai para as últimas prioridades dos brasileiros nos momentos em que as contas básicas como água, energia e alimentação já estão caras.
“Desde antes da pandemia, ele não é um setor tão atrativo. No cenário atual, as empresas precisam lutar contra o desemprego e inflação que vem corroendo os orçamentos familiares e é refletido nas menores taxas de matrículas”, aponta.
Além disso, o custo com material e com reajustes salariais dos profissionais aumentam os gastos das empresas. “É uma dinâmica bem perversa para o setor”, aponta Cruz.
De acordo com Leo Monteiro, analista de Research da Ativa Investimentos, a expectativa para a temporada de matrículas é que haja uma retomada de captação presencial. Mesmo que não voltem ao patamar anterior ao da pandemia, as companhias devem mostrar boas performances se comparadas ao que foi visto nos últimos dois anos.
O especialista ainda sugere a possibilidade de que a ‘hibridização’ seja uma nova realidade para o setor. “A pandemia quebrou um preconceito que a população tinha com o segmento EAD [Educação à Distância], que ele evoluiu e mostrou seu valor”, afirma.
O estrategista da RB aponta a possibilidade de reversão de tendência para o setor a partir de pesquisas eleitorais para a campanha presidencial de 2022. Segundo Cruz, com o ex-presidente Lula (PT) em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, as expectativas para o setor tornam-se mais otimistas já que os oito anos em que ele esteve no poder (2003 a 2010) foram marcados por fortes investimentos e incentivos à educação.
“Caso o ex-presidente Lula seja reeleito, acredito que vai existir algum tipo de dinâmica de incentivo do governo federal para o aluno se matricular, estudar e cursar o ensino superior, mesmo que não seja por meio do FIES. O que pode ser uma mudança brusca de médio prazo para o setor de educação”, afirma Cruz. Ele complementa que esse cenário faria com que as ações do segmento pudessem ser revisadas para cima, saindo do neutro e passando a serem ativamente recomendadas.
Já para Monteiro, da Ativa, as empresas devem seguir um caminho mais positivo independentemente das eleições, especialmente pelo retorno ao presencial. Apesar disso, não se pode negar que programas de incentivo à educação por parte do governo federal contribuíram com a performance do setor.
“Por conta das questões fiscais, ficou clara a impossibilidade de manter programas como o FIES por muito tempo. De todo modo, as empresas sofreram muito com o fim dessa política do governo anterior, mas acredito que seja muito difícil o retorno de um programa de magnitude no curto e médio prazo”, afirma.
“Se for para escolher um dos papéis dentro do setor, acredito que a Anima Educação (ANIM3) seja um destaque por atuar em diferentes segmentos”, aponta Gustavo Cruz, da RB.
O time de analistas do BTG Pactual também tem indicação de comprar para a ANIM3, com projeção de R$ 15. Segundo análise do banco, os resultados do terceiro trimestre foram surpreendentemente positivos, especialmente por mostrar melhorias com a aquisição da Laureate no Brasil, integrada em maio deste ano.
“Reiteramos nossa classificação de compra, pois acreditamos nos fundamentos por trás de sua recuperação de margem são menos dependentes do cenário macro adverso atual (ou seja, agenda ascendente para compensar o cenário macro atual)”, aponta a equipe de Research do BTG em relatório.
Para Luis Assis, analista da Genial Investimentos, além da Anima, com preço-alvo de R$ 12, outro papel do setor com recomendação de compra é a Yduqs (YDUQ3), com preço-alvo calculado em R$ 35.
Já para a Ativa Investimentos, a projeção atual do preço da YDUQ3 é de R$ 43,70. De acordo com o analista Leo Monteiro, a Yduqs apresentou um resultado do terceiro trimestre majoritariamente em linha com as expectativas. “O forte crescimento de receita comparativa anual se deu pelo aumento expressivo na base de alunos da empresa, principalmente no EAD, devido à recente aquisição da QConcursos e ao forte processo de captação”, destaca.
Monteiro aponta o crescimento do segmento Premium e a expansão do ticket no presencial como destaques da reversão da trajetória negativa impactada pela redução do FIES na companhia.
Fonte: Estadão online