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Um painel idealizado e coordenado pela Associação Nacional das Universidades Particulares (ANUP) discutiu como as Instituições de Ensino Superior (IES) particulares podem contribuir para a melhoria da qualidade da Educação Básica, em especial nas comunidades vulneráveis da Amazônia.

Intitulado “Instituições de Ensino Superior e Educação Básica de qualidade: Conexões para o Desenvolvimento Sustentável na Amazônia”, o debate estava inserido na programação paralela da Conferência Regional de Educação Superior (CRES+5).

A CRES+5 foi realizada em Brasília, entre os dias 13 e 15 de março, promovida pelo Ministério da Educação (MEC), Instituto Internacional da UNESCO para a Educação Superior na América Latina e Caribe (IESALC) e o Espaço de Educação da América Latina e Caribe (ENLACES). Quase duas mil pessoas dos países da região participaram.

Durante o painel, duas iniciativas bem-sucedidas foram exploradas. A primeira foi a Rede Mondó, um programa de desenvolvimento territorial. O projeto opera a partir do ambiente escolar e foi idealizado pela ANUP Social, área de ESG da ANUP.

A outra iniciativa apresentada foi a UNFPA Brasil, organismo da ONU que trata de desenvolvimento e questões humanitárias pela abordagem da saúde sexual e reprodutiva e direitos, com foco em mulheres, adolescentes e jovens.

Ambas desenvolvem projetos, ações e iniciativas na Amazônia em parceria com Instituições de Ensino Superior (IES).

REDE MONDÓ

A Rede Mondó foi criada em 2020, ainda durante a pandemia de COVID-19, para tentar mitigar os efeitos drásticos da crise sanitária sobre o desempenho escolar das crianças que vivem em regiões vulneráveis da Amazônia.

O projeto atua a partir de Breves, cidade do Arquipélago do Marajó (PA), trabalhando para que as escolas da rede municipal sejam o ambiente de transformação da realidade local nos aspectos social, econômico, ambiental e cultural. Clique aqui e visite o site!

A sinergia entre Ensino Superior e Educação Básica está no DNA da Rede, segundo Carolina Maciel, Diretora Executiva do projeto. Isto porque, antes mesmo de partir, de fato, para a atuação no município marajoara, foi realizado o que eles chamam por “Diagnóstico do Território”.

O processo consistiu em um levantamento de dados com a ajuda de estudantes universitários que, atualmente, integram a equipe. “Não havia como entender a realidade, e se, de fato, a população enxergava a escola como a solução para os desafios que enfrentavam, se não tivéssemos feito essa escuta”, explica.

“Nossa expectativa, desde o início, sempre foi trazer o Ensino Superior para contribuir com o Ensino Básico público. Em Breves, há uma riqueza de possibilidades, de conhecimento e de ancestralidade que retroalimenta essa união”, completa.

Municiados desses dados, foi possível identificar não só o caminho a ser seguido para provocar a melhoria nos indicadores da Educação, como perceber que a Rede Mondó seria um projeto multidimensional. Hoje, o projeto tem em seu portfólio ações que passam por quatro dimensões: Educação, Saúde, Desenvolvimento Econômico e Infraestrutura (Água, Energia e Moradia).

“Ficou claro que para fazer um projeto estruturante era preciso uma atuação coordenada em diversas dimensões. Traçamos, então, um caminho para unir os diferentes setores e, ao trabalhar pela melhoria da gestão da escola, posicioná-la como um lugar de solução para os problemas locais. E, se nós acreditamos nisto, as pessoas precisam estar conectadas ao ambiente escolar”, ponderou Carol.

GESTÃO DAS ESCOLAS

Neste sentido, a principal parceria firmada pela Rede Mondó é com a Fundação Pitágoras, braço social da Cogna Educação. A entidade criou, há mais de 20 anos, o Sistema de Gestão Integrada (SGI). Trata-se de uma metodologia especialmente criada para as escolas de educação básica da rede pública que trabalha elementos da gestão como liderança, planejamento, processos de trabalho, gestão de pessoas e informações.

O objetivo é, por meio da melhoria na gestão, impactar o nível de aprendizagem dos alunos. “É claramente perceptível que os conceitos abordados no SGI, como o de 5S, transbordam da sala de aula e são aplicados na vida pessoal”, aponta Juliano Griebeler, vice-presidente da ANUP e presidente do Conselho Curador da Fundação.

Em Breves, o trabalho de capacitação no SGI começou há quase dois anos e, em 2024, entra em sua fase final. Estão envolvidos nesse processo 24 gestores de 55 escolas. A ideia é que este primeiro grupo replique o conhecimento para toda a rede municipal de ensino. “Já há resultados expressivos: 97% dos professores capacitados em SGI perceberam melhoria nos processos de gestão das escolas”, anunciou Juliano.

TRANSFORMAÇÃO

As declarações do representante da Fundação Pitágoras encontraram eco na participação de Glinda Farias, coordenadora do Núcleo de Integração da Rede Mondó. Como marajoara, ela destacou que a maior identificação entre a comunidade e o projeto é a valorização das potencialidades locais.

“A Rede Mondó nos mostra, diariamente, que não precisamos sair do Marajó para ter futuro e qualidade de vida. Temos muitas riquezas e desafios que são possíveis de serem vencidos por nós. E foi isso o que o diagnóstico realizado na fase inicial de implantação do projeto nos mostrou”, afirma.

Segundo Glinda, a iniciativa da Rede Mondó em buscar uma equipe local para fazer o levantamento de dados do território foi inédita. “Havia uma frustração muito grande porque, em geral, as coisas vinham prontas, de cima para baixo. Mas o diagnóstico mudou isso: ele é o brilho dos nossos olhos porque, de fato, mostra a nossa realidade; foi construído por estudantes universitários marajoaras”, destaca.

“Tudo o que desenvolvemos hoje está baseado em dados, na realidade, porque é assim que acreditamos que vamos provocar uma transformação na realidade”, acrescentou Glinda.

UNFPA

Nair Souza, Oficial de Programa para Segurança de Insumos em Saúde Sexual e Reprodutiva do UNFPA, fez um panorama da atuação da entidade no país. Especificamente nessa área, a organização atua para atingir o que ela chamou por “Três Resultados Transformadores”: zero práticas de violência, zero morte materna e zero necessidade de planejamento reprodutivo.

Nesse âmbito, o foco de atuação está no público feminino que vive em regiões vulneráveis do Norte e do Nordeste.

Nair explicou que esse trabalho se respalda diretamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, que estão ligados, diretamente, à Educação. Por essa razão, as parcerias entre os setores da área são imprescindíveis para alcançá-los.

“Entendemos, portanto, que as universidades, enquanto espaços de educação, não só geram ideias, mas reforçam as crenças em direitos fundamentais. Por isso, o comprometimento dos acadêmicos, dos professores, dos estudantes, a soma de esforços em estabelecer parcerias, é fundamental”, pontuou.

Ainda para Nair, o Brasil experimenta uma chance singular de dar voz às pessoas que vivem nas comunidades amazônicas e fazê-las serem ouvidas pelos líderes mundiais. “Quando falamos da questão climática, não podemos esquecer das pessoas. Este é o momento de trazer a voz delas. A COP30 vai ser essa oportunidade, pois será realizada no Brasil e, portanto, precisamos estar juntos para trazer essa mensagem aos líderes do mundo”, enfatizou.

FORMAÇÃO

Julia Jungmann, gerente de Responsabilidade Social da ANUP e mediadora do evento, defendeu um ponto importante. Ela destacou o quanto as universidades podem ainda contribuir para fortalecer o potencial humano da Amazônia. Este é um aspecto pouco explorado no discurso de preservação da floresta.

“A região amazônica está nos olhos do mundo, mas aqui, na ANUP, entendemos que não há como tratar de aquecimento global, de cuidar da floresta, sem fortalecer e capacitar as pessoas que estão sob a árvore. E estamos certos que isso vem por meio da educação”, disse.

Ainda segundo Julia, a organização de eventos globais no Brasil (como a reunião do G20 e a COP 30, em Belém) estabelece uma situação perfeita para intensificar ainda mais os esforços para proteger a Amazônia e todo o seu ecossistema.

“Abrir os muros da universidade e fortalecer as pessoas da floresta por meio da educação tem um poder transformador. Nós precisamos vislumbrar a formação de pessoas no território que se transformem em potências, pois só assim construiremos um futuro melhor”, pontuou.

Remodal