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Os dados do Censo do Ensino Superior de 2020 trazem a confirmação de algumas tendências e mostram como a quase extinção do Programa de Financiamento Estudantil (Fies) e a pandemia estão contribuindo para que elas se consolidem mais rapidamente. O primeiro fato que nos chama a atenção é a predominância, pela primeira vez, do número total de ingressantes no ensino superior através da modalidade do ensino a distância (EaD) em relação ao presencial; enquanto no EaD o número de ingressos foi de 2.008.979, no presencial esse número foi de 1.756.690. O crescimento no EaD, de 2019 para 2020, ocorreu tanto na rede pública quanto na privada. Na pública, o crescimento foi de 48,8% enquanto na privada, de 25,7%. Em números absolutos, isso corresponde, respectivamente, a 15.841 e 400.954 ingressantes a mais via EaD de 2019 para 2020.

No que se refere à faixa etária, 47,8% dos estudantes de graduação têm até 24 anos: na rede privada, esse percentual é menor (43,7%) que na pública (62%). A partir dos 25 anos, a situação se inverte. Por exemplo, na faixa etária dos 25 aos 39 anos, 42,7% desses alunos estão matriculados no setor privado, enquanto na rede pública o índice é de 31,5%.

No que se refere aos concluintes, considerando ambas as modalidades, presencial e EaD, de 2019 para 2020 houve um aumento de 7,6% na rede privada e uma queda de 18,8% na pública. Em números absolutos, isso corresponde, respectivamente, a um crescimento de concluintes na rede privada de 75.735 e a uma queda de 47.219 no setor público. É interessante salientar que esse número do setor público é, na verdade, a diferença da queda no ensino presencial de 52.860 concluintes e do aumento de 5.641 concluintes no EaD.

Na rede privada, 64,4% dos alunos concluíram um curso presencial, enquanto 35,6% o fizeram via cursos na modalidade EaD. Mas essa diferença já foi bem maior. Por exemplo, há 10 anos, em 2010, 83,2% dos concluintes eram do ensino presencial, enquanto pelo EaD esse percentual foi de apenas 16,8%. A força do EaD se faz cada vez mais presente, tanto para os ingressantes quanto para os concluintes.

No que se refere às matrículas, houve aumento de 0,9% de 2019 para 2020: aumento de 3,1% na rede privada e queda de 6% na pública. Em 2020, o Brasil tinha 8.680.945 alunos matriculados no ensino superior; desses, 77%, ou seja, 6.724.339, estavam no ensino privado. Mais uma vez se confirma aqui a tendência de queda no ensino presencial, tanto no setor público como no privado, e um crescimento notável do EaD no setor privado. Nos cursos presenciais, o número de matrículas caiu 9,4%: queda de 10,8% na rede privada e de 6,4% na pública. No EaD, houve um aumento significativo de 28,6% de matrículas na rede privada, o que equivale, em números absolutos, a 655.823 matrículas a mais no EaD de 2019 para 2020.

A diferença do ensino presencial para o EaD, no setor privado, vem caindo substancialmente na última década. Em 2010, o percentual de matrículas no ensino presencial da rede privada era de 83,2%, e de 16,8% no EaD; em 2020, esses percentuais eram, respectivamente, de 56,2% e 43,8%. Os ingressantes no EaD já superam aqueles do presencial.

Essa tendência forte de crescimento no EaD decorre, na minha opinião, da conjugação de dois fatores: a quase extinção do Fies e a pandemia, que aumentou o desemprego e a perda relativa de renda. Em 2014, 21,3% dos alunos estudavam com apoio do Fies; hoje esse percentual é de apenas 1,2%. Sem Fies e sem renda, o caminho mais viável para cursar o ensino superior foi através do EaD, cuja mensalidade é, em média, cinco vezes menor que a praticada no ensino presencial.

Com o aumento da oferta na modalidade EaD, verifica-se uma queda tanto no número de docentes em exercício como no de funcionários e técnicos. O número de docentes caiu 5,1% em 2020: na rede privada a queda ficou em 7,0%, e na pública, em 2,9%. Quanto aos funcionários, a queda foi de 8,9% no total: na rede privada, chegou a 14,8%, e na pública foi de 2,3%.

Não só o ensino superior mas a educação de uma maneira geral passam por uma metamorfose. São novos tempos, e ainda não conhecemos o real impacto que o chamado metaverso pode causar em tudo isso. É pagar para ver.

MOZART NEVES RAMOS – Titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados da USP de Ribeirão Preto

Fonte: Correio Braziliense Online

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