Trabalho com educação infantil e com outras etapas da educação nacional desde o início da de década de 1970, quando ao lado dos meus irmãos, Plinio e Teresinha, construímos a Mace, em Campo Grande. Depois vieram o Cesup e a Uniderp instituições com larga folha de serviços prestadas a educação superior do estado e do Brasil.
Ao longo desse tempo tive a felicidade de participar de muitas rodas de estudos sobre educação na primeira infância. As pesquisas são unanimes em informar que o ensino infantil representa um passo muito importante para o sucesso do aluno quando chegar a fase adulta e se deparar com a demandas da sociedade do seu tempo.
Somos sabedores que o Brasil tem uma dívida imensa com suas crianças, notadamente as mais frágeis economicamente que vivem em territórios marcados pela ausência do Estado, suportando todo tipo de privações, inclusive a falta de creches, escolas, segurança, alimentação e oportunidades.
Em média, lamentavelmente, o Brasil só colocou 32,6% das crianças em creche. A meta do Plano Nacional de Educação era garantir que 50% delas estivessem em creche, em 2010. O déficit de vagas para criança está calculado em 2,4 milhões em nosso país.
O mais grave é que o drama do ensino infantil se reflete nas demais etapas da educação. Toda cadeia fica comprometida. Ou corrigimos as dificuldades na origem ou vamos conviver com dados que nos deixam tristes e distantes da vanguarda tecnológica do presente e do futuro da humanidade.
Estamos perdendo talentos ao não cuidar corretamente das nossas crianças. De acordo com o economista norte-americano James Heckman – ganhador do Prêmio Nobel em Economia no ano 2000 −, o investimento na primeira infância pode resultar em um incremento de renda de até 60% de adultos que frequentaram creches, se comparado a pessoas que não fizeram essa etapa de ensino.
Assim, não há tarefa mais urgente e importante do tempo presente do que desenvolver na criança, desde cedo, o gosto pela aprendizagem. Fazer com que ela veja e sinta o processo educativo como algo útil e prazeroso, e que a acompanhará por toda a vida. Precisamos de um verdadeiro salto da educação, partindo da infância até a universidade.
É verdade que a Constituição Federal de 1988 foi generosa com as crianças. O Estado reconheceu a educação infantil como um direito da criança, e não mais da mãe ou do pai trabalhadores. A partir daí a educação infantil em creches e escolas passou a ser legal, um dever do Estado e direito da criança.
O Estatuto da Criança e do Adolescente promulgado em 1990, foi outro grande avanço objetivando proteger a primeira infância, pois assegurou que crianças e adolescentes devem ter o seu direito à vida e à saúde protegido com prioridade pela família, pela comunidade, pela sociedade em geral e pelo poder público.
Estamos avançando na melhoria da educação das crianças, claro, porém de forma muito lenta. O Brasil demanda pessoas formadas com educação de qualidade para disputar os mercados econômicos do mundo e aprofundar o conceito de cidadania plena.
Para conquistarmos esse patamar precisamos que nossas crianças tenham acesso à uma educação moderna e progressista, com escolas limpas, bonitas, alegres, com professores entusiasmados e articulados com o que há de mais moderno no mundo da ciência, notadamente os domínios da metacognição e das plataformas digitais. Esse é o caminho que a educação do Brasil deve seguir!
Por Pedro Chaves – economista, educador e ex-senador da República