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O Ensino Superior enfrenta uma grave crise nos últimos anos. O problema tem diversos aspectos, desde a ociosidade de bancos universitários até o crescente número de jovens que se inserem na chamada geração “Nem-Nem”, desinteressados tanto pelos estudos quanto pelo mercado de trabalho.

Segundo o Censo da Educação Superior de 2022, 75,7% dos jovens brasileiros, entre 18 e 24 anos, estão fora do ensino superior no País. A taxa de desistência acumulada naquele ano foi de 58%, mas fica mais preocupante se considerar que em 2013 este mesmo índice era de 11%.

Embora existam sinais de recuperação após a pandemia de Covid-19, os problemas que assolam o ensino superior são mais complexos e estruturais. A desmotivação dos jovens se intensifica diante da dificuldade em se definir por uma carreira profissional.

Não existe mais garantia de nada, apenas uma instabilidade do mercado de trabalho, que sofre constantes transformações com o avanço da tecnologia, especialmente da inteligência artificial. Profissões tradicionais são extintas, enquanto novas oportunidades surgem a um ritmo acelerado. Essa dinâmica gera incertezas e angústia nos jovens, que não sabem que caminho profissional seguir.

Depois da queda registrada até a pandemia, o município de Francisco Beltrão (PR) voltou a perceber aumento no número de matrículas no ensino superior presencial, entre 2021 e 2022, passando de 4.694 para 4.935 (+5%). No entanto, apenas 813 dessas matrículas eram de formandos. Ou seja, a quantidade de pessoas que efetivamente terminam o curso que começaram ainda é muito pequena. No mesmo período, as matrículas nos cursos de Educação a Distância (EAD) aumentaram de 3.967 para 4.726 (+19%). Da mesma forma, o número de concluintes também é baixo: 512.

Mário Sérgio Ramos, morador de Francisco Beltrão e graduado em Enfermagem, relembra sua experiência ao iniciar o curso de Engenharia da Computação em uma instituição federal em 2012. Ramos diz que foi motivado na época pela perspectiva de oportunidades no mercado de trabalho. No entanto, após seis meses, ele se viu questionando a própria escolha: “Eu refleti e percebi que aquilo não era o que eu queria. Me perguntei, o que estou fazendo aqui?” Dos 50 alunos que ingressaram naquela turma, apenas seis conseguiram concluir o curso.

Neto Cajaíba, 22 anos, natural de Itagi, Bahia, cursava informática no ensino médio/técnico. No terceiro ano, ao concluir o ensino médio, prestou o Enem e se inscreveu no Sisu. “Eu tinha duas opções e escolhi a licenciatura em informática, na UTFPR de Francisco Beltrão. Já estava familiarizado com o conteúdo e acreditava que era a área que queria seguir. Assim, finalizei o curso no terceiro ano, não completando o quarto ano, que era mais voltado para o aspecto técnico.”

Durante a pandemia, o primeiro semestre foi realizado de forma remota pela UTFPR, em modalidade EAD. “Iniciei os estudos na Bahia, mas no segundo semestre me mudei para Beltrão, buscando me adaptar à cidade antes do início das aulas”, Neto.

Após a mudança, ele conta que passou a trabalhar mais com fotografia e futsal na cidade, o que acabou desviando seu foco. “A dificuldade de conciliar os estudos com o trabalho me levou a trancar a faculdade. Além disso, percebi que minha área de interesse havia mudado, não se alinhando mais com a informática, especialmente na modalidade de licenciatura, porque teria que dar aula e não era o que eu queria.”

Ele conta que planeja retomar os estudos, mas agora buscando um curso mais alinhado com a sua área de atuação, comunicação. Atualmente, Neto trabalha como assessor de imprensa do Marreco Futsal.

Falta de perspectivas pode levar à desmotivação nos estudos

O professor Claudemir José de Souza, diretor da Unipar em Francisco Beltrão e diretor financeiro da Associação Nacional das Universidades Particulares (ANUP), ressalta a extrema preocupação com o problema da evasão no ensino superior. Ele destaca que há uma inquietação em relação às oportunidades e ao valor agregado pelo ensino superior na carreira daqueles que buscam não apenas conhecimento, mas também uma melhoria na qualidade de vida.

“As Instituições de Ensino Superior (IES) têm vagas disponíveis, porém, o problema vai além disso, pois há também a questão da ociosidade. Inicialmente, ingressam 40 a 50 alunos no primeiro ano, mas esse número diminui para cerca de 30 no segundo ano, e continua declinando. Contudo, os custos para manter uma sala de aula em funcionamento permanecem os mesmos, quer haja 20 ou 50 alunos.”

Claudemir observa que, enquanto as instituições públicas têm trabalhado para preencher essas vagas ociosas e atrair candidatos das universidades particulares, o que resolve o problema nas instituições públicas, isso acaba gerando ociosidade nas privadas, impactando nos custos.

As instituições particulares também implementaram diversos programas para apoiar os alunos e incentivá-los a continuar os estudos. No entanto, a ampliação do FIES trouxe um sério problema devido à alta inadimplência, atingindo o limite máximo. “Parte da responsabilidade recai sobre as instituições financeiras que não efetuavam cobranças e o sistema não foi retroalimentado adequadamente, resultando em falta de recursos para novos financiamentos estudantis.”

Oportunidades?

Conforme o dirigente, a desistência no ensino superior ocorre devido à falta de oportunidades, pois muitos jovens iniciam um curso sem vislumbrar perspectivas de ascensão na carreira profissional. Além disso, há o aspecto financeiro a ser considerado. Há alunos que precisam se deslocar de uma cidade para outra para estudar, elevando seus custos.

“Por exemplo, na Unipar em Francisco Beltrão, há alunos provenientes de localidades como Realeza, Ampere, Barracão e Dionísio Cerqueira, entre outras, percorrendo grandes distâncias diariamente para frequentar as aulas. Isso resulta em cansaço físico, custos adicionais com transporte, às vezes até superiores ao valor da mensalidade.”

Não há futuro para um País sem profissionais qualificados

Claudemir José de Souza, diretor da ANUP, também faz menção ao que vem ocorrendo no ensino médio, onde se observa um aumento no número de professores contratados temporariamente, através do processo seletivo simplificado (PSS), enquanto os concursos para professores efetivos estão cada vez mais raros em todos os estados. “Se a carreira de efetivo (concursado) já sofre pela falta de interesse do jovem, imagine para ser PSS (temporário).”

Ele destaca que não há futuro para um País sem profissionais qualificados, e são os professores que formam esses profissionais. “Novos talentos dependem de professores capacitados, que por sua vez dependem de uma formação sólida.”

Além disso, Claudemir aponta para os resultados preocupantes do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), que evidenciam a falta de preparo dos graduandos para exercer suas profissões. “Se o Enade fosse o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ou de outro conselho profissional, isso significaria que, a cada quatro alunos formados no Brasil, três não estariam preparados adequadamente para exercer suas atividades profissionais.”

Veja a matéria completa aqui.

Fonte: Jornal de Beltrão / Foto: Freepik

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