Segundo levantamento do Governo Federal, existem mais de 2,6 mil instituições de educação superior no Brasil, sendo que, desse universo, 294 são centros universitários, 198 são universidades e 40 são instituições federais de ensino, fora as faculdades. “Para nós, densidade vence tamanho”, disse à DINHEIRO Bruno Adami, 24 anos, CEO da Umatch. A rede social brasileira criada em 2020 explora justamente o poder de viralização e expansão de seu mercado dentro de um grupo de perfil bem definido e concentrado, o do estudante universitário. Rara rede criada no país – sim, usamos muito, mas as plataformas são todas estrangeiras -, a novata é exclusiva para esse público, que está em uma fase da vida pessoal e profissional de descobertas e momentaneamente carrega os mesmos anseios. Daí poder pensar o negócio de maneira top-down, diferente de outras redes.
Não tem como não fazer um paralelo com a rede criada por Mark Zuckerberg, o Facebook, para conectar seus amigos estudantes de Harvard, em 2004. Até mesmo os primeiros investidores do Umatch são os Harvard Angels e os Poli Angels, da USP, curso de Engenharia da Computação da Politécnica que Adami ainda está completando, junto com Engenharia de Produção na Politecnico Di Torino, na Itália. Nos pouco mais de dois anos de sua fundação, o Umatch já bate este mês 110 mil usuários, vindos de 960 instituições já cadastradas – crescimento exponencial nesses primeiros meses de 2022, graças à volta do ensino presencial, abertura do app para outros estados do país e campanha de marketing.
Escalabilidade
Para o usuário chegando na rede, o Umatch pode parecer um Tinder, app de relacionamentos que aproxima pessoas geograficamente próximas. Mas com corte universitário, o Umatch agrega interesses mais a longo prazo, podendo se restringir à amizade por afinidades outras que não o sexo. A monetização da startup se dá no modelo de negócios premium – o usuário tem a experiência completa grátis, mas ganha uso mais dinâmico pagando. A luz verde para acelerar o namoro com investidores acendeu ao perceberem a taxa de conversão excepcional em comparação a números da indústria das redes sociais no mundo. Na verdade, o Umatch está com uma métrica comparável a números do Instagram em 2017, comprado por US$ 1 bilhão em 2012 pelo Facebook. “Claro que não é o Instagram de hoje, que é considerado state of art no setor. Mas densidade é isso: na instituição de ensino superior Insper, por exemplo, explodimos, atingindo 20% dos alunos. E é extremamente difícil um produto de rede social atingir viralização”, afirmou Adami, que responsabiliza seu desempenho e disciplina nos negócios a sua dedicação anterior à Ginástica Olímpica.
Foi tentando juntar pessoas na Poli por meio do Facebook para seu esporte preferido, a Calistenia (exercícios em que se usa o peso do próprio corpo), que ele chegou a 47 grupos voltados para alunos, um embrião do Umatch. “Minha mãe me colocou no esporte e sou muito grato. Mas sempre quis ser inventor e matemática e física sempre me fascinaram”, afirmou o empreendedor, que tem como cofundador no app Cayo Syllos, 26, que conheceu na Poli. Atualmente estão com 10 funcionários, sendo dois programadores que vieram da própria sala do CEO. Pouca gente? O Instagram tinha 13 quando foi comprado. “É uma característica do negócio das redes sociais, você consegue ter escala, sem ter escala de pessoas.” Escala é uma palavra mágica dentro das startups. Com o produto no mercado e canal para deslanchar a base, o momento seguinte é o de vivenciar a escalabilidade. A Umatch quer agora investidores maiores, expandindo seu alcance para fora do país.
Segundo Adami, não existe rede semelhante no exterior – pelo menos não com essas características, apontado para “pessoas”. Na teoria das startups, a Umatch deveria estar se movendo só com os R$ 900 mil captados no primeiro seed, mas estão além, com o crescimento do canal e assinaturas premium, um modelo mais do que validado em outras plataformas. Ele lembra que existem empreendedores que captam seed só com um Powerpoint, levantando coisa de US$ 2 milhões. “OK, não é mágica, são empreendedores experientes. Sou um first time entreprenuer. Ainda na faculdade, não conseguiria captação só com uma apresentação. Com nosso conhecimento, montamos a plataforma e a rodamos. Agora estamos em uma nova fase, de escalar o negócio.”
Por enquanto, estão focados na experiência do usuário, deixando o app “limpo”, sem aborrecê-lo com publicidade. Se usassem, como o Tinder, se beneficiariam de ter um rico nicho comprovado – o Umatch usa o domínio de email das faculdades e alunos para certificá-los instantaneamente. Mas quem não tem, não se preocupe: eles aceitam o velho método, o dos documentos escaneados mesmo.
Fonte: Revista IstoÉ Dinheiro