Ferramentas tecnológicas de ensino-aprendizagem são, obviamente, vitais à educação a distância (EaD). Mas aos cursos presenciais também. Especialmente depois da pandemia. Com o uso massivo das plataformas digitais no presencial, práticas e recursos pedagógicos convencionais começam a perder protagonismo.
Os resultados de uma edição especial do Censo EAD.BR, realizado pela Associação Brasileira de Ensino a Distância (Abed), evidenciam o impacto do EaD no ensino presencial. Por exemplo: 74% das IES ouvidas pelo estudo afirmam ter transferido conhecimento sobre o uso de tecnologias de uma modalidade para outra.
Com esse legado em mãos, o ensino presencial não será mais o mesmo. “A tecnologia disparou uma reflexão sobre o significado da prática pedagógica”, afirma a professora Rita Maria Lino Tarcia, diretora administrativa financeira da Abed. “O ensino presencial vai repensar seu diálogo com a tecnologia para utilizá-la em prol de uma aprendizagem mais efetiva.”
A transferência para o ensino remoto aproximou o formato presencial de tecnologias mais conhecidas pelo EaD. O uso do ambiente virtual de aprendizagem (AVA ou LMS, na sigla em inglês), por exemplo, foi ampliado para cursos presenciais em 47% das instituições de ensino superior ouvidas no estudo da Abed.
Segundo Tarcia, o AVA é uma ferramenta facilmente configurável e adaptável. Essa flexibilidade contribui para a inovação dos processos de ensino em qualquer modalidade. “É hora, portanto, de pensar em maneiras de potencializar o papel do AVA para que ele dialogue com as práticas presenciais”, sugere.
Por funcionar como um campus online, o AVA abre uma série de possibilidades. Inclusive, para aplicação de metodologias ativas, como a sala de aula invertida. Assim, o aluno tem acesso a conteúdos em diversos formatos para dar continuidade a atividades pedagógicas iniciadas em sala de aula, como discussões teóricas e construção de projetos.
O mesmo vale para tecnologias de ponta. Entre elas, a realidade virtual e aumentada, vídeos imersivos em 360° e laboratórios virtuais. Em consolidação no EaD, tecnologias como essas têm muito a contribuir no ensino presencial. Elas promovem vivências e práticas interativas que ajudam no desenvolvimento de competências socioemocionais e habilidades psicomotoras.
Os vídeos 360°, por exemplo, levam turmas inteiras para longas viagens imersivas sem que os alunos saiam de casa, permitindo experiências que talvez não fossem viáveis na vida real. Já os laboratórios virtuais promovem simulações práticas com alto grau de fidelidade em áreas como Engenharia e Saúde, preparando melhor os estudantes às práticas presenciais.
Além de conhecer as tecnologias disponíveis, as IES precisam definir quais etapas do processo pedagógico se adaptam melhor em cada modalidade. É por isso que as intersecções propostas pelo ensino híbrido desempenham um papel fundamental na apropriação de tecnologia do EaD pelo presencial.
“Nessa transição pós-pandemia, é importante explorar o ensino híbrido para entender como o virtual pode enriquecer a experiência do aluno”, explica Tarcia, da Abed. “Ao mesmo tempo, o presencial passa a ter outra função que não apenas a transmissão de conteúdo, potencializando as relações humanas entre aluno e professor.”
Cabe aos gestores e, especialmente, aos professores determinarem os objetivos educacionais. A partir disso, buscarem os recursos tecnológicos mais adequados à IES.
Nesse processo, cabe lembrar que muitos docentes precisam abrir mão da ideia enganosa de que a tecnologia vem para substituí-los.
“O professor é o grande arquiteto da educação, responsável por construir a situação de aprendizagem a partir dos seus conhecimentos, sua vivência e sua prática profissional. Estar aberto para olhar e aprender com as tecnologias, entendendo seus potenciais, é o maior desafio dos docentes nesse momento”, completa a professora Tarcia.
Fonte: Desafios da Educação