
O presidente da ANUP, Juliano Griebeler, participou do painel “Natureza, Finanças e Transição Justa”, da “SB COP: Soluções Estratégicas do Setor Produtivo”, uma aliança global que busca articular, fomentar e apoiar compromissos empresariais para a agenda climática liderada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria).
O evento foi realizado na quarta, 6 de agosto, em São Paulo. A programação destacou soluções práticas e já implementadas pelo setor produtivo, com o objetivo de acelerar a transição para uma economia de baixo carbono e reforçar o papel das empresas na agenda climática global.
Durante sua participação, Juliano, também co-chair de Habilidades Verdes da SB COP, destacou que as chamadas “habilidades verdes” serão cada vez mais estratégicas para diversas áreas, como reciclagem, energia renovável, agricultura, construção sustentável e gestão de resíduos.
A afirmação dele se fundamenta no relatório “Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo 2018: Greening with Jobs”, da OIT (Organização Internacional do Trabalho). O documento informa que nos próximos anos podem ser criados entre 16 e 30 milhões de empregos verdes em todo o mundo — e até metade dessas vagas podem estar no Brasil.
“A demanda por empregos verdes já existe. Até 2030, sabemos que serão criados mais de 30 milhões de empregos dentro da economia verde”, explica Juliano.
DESAFIOS
O relatório da OIT também aponta que, no nível regional, haverá criação líquida de cerca de três milhões de empregos nas Américas, 14 milhões na Ásia e no Pacífico e dois milhões na Europa, graças a medidas tomadas na produção e no uso de energia. Em contraste, pode haver perdas líquidas de empregos no Oriente Médio (-0,48%) e na África (-0,04%) se as tendências atuais continuarem, devido à dependência dessas regiões de combustíveis fósseis e mineração, respectivamente.
O financiamento na educação foi apontado como o principal desafio durante o evento, e Juliano enfatizou a importância de que os recursos sejam bem alocados para refletir as necessidades do mercado de trabalho.
“Quando se trata de educação, não estamos falando apenas de mais dinheiro, mas de um investimento bem direcionado. Precisamos aplicar fundos onde há maiores necessidades e onde possamos alcançar os resultados desejados na demanda de mercado de trabalho. Temos programas ótimos de bolsas de estudo no Brasil, mas talvez a gente precise redirecionar recursos para esse desafio dos empregos verdes”, afirmou.
Para o presidente da ANUP, investir no setor não é apenas uma questão de responsabilidade socioambiental, mas também de viabilidade econômica. “Não se trata apenas de as empresas investirem onde tiver dinheiro, mas também do trabalhador enxergar nesses trabalhos uma possibilidade real de futuro, capaz de gerar a renda de que precisa”, frisa.
“A realidade brasileira é que muitas pessoas têm baixo poder aquisitivo para pagar pelo estudo e treinamento necessário, então precisamos identificar onde essas pessoas estão e como apoiá-las para que possam se qualificar e ingressar nessas profissões”, completa.
REQUALIFICAÇÃO
Juliano também reforçou a necessidade de integrar o trabalho informal, tão presente no Brasil, às ações da área. “O mercado de trabalho brasileiro é muito informal. Precisamos mapear quais habilidades serão demandadas e, a partir disso, requalificar as pessoas. A proposta é trazer para o mercado formal também os profissionais que já atuam de forma autônoma, valorizando o conhecimento das comunidades tradicionais, por exemplo, que muitas vezes é ignorado”, aponta.
O Brasil, por ser um país de dimensão continental, torna criar soluções que contemplem as diferentes realidades um grande desafio. Para Juliano “se encontrarmos soluções que contemplem todo o Brasil, com tantas realidades, é muito provável que existam situações em que a gente encontre soluções a nível mundial. A gente precisa ter um projeto que traga escala, mas que se aprofunde na realidade das territorialidades”, destaca.
O debate foi mediado por Ricardo Mussa, chair na SB COP, com a participação de Miguel Moraes, deputy chair em Soluções Baseadas em Natureza, Daniela Carbinato, knowledge partner de Sistemas Alimentares, e Luciana Ribeiro, chair de Financiamento e Investimento de Transição.
Confira a transmissão na íntegra: