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Com a presença de alunos negros ainda muito menor que a média do ensino superior do país, faculdades particulares de elite estão reforçando ações para aumentar a diversidade em suas salas de aula.

Nos últimos meses, com o enfraquecimento das políticas públicas de acesso ao ensino nessa etapa e o aumento da desigualdade educacional no Brasil, essas instituições passaram a rever as ações afirmativas que desenvolviam para que elas sejam mais efetivas.

Enquanto, em todo o país, os estudantes negros são 50% dos matriculados no ensino superior, nessas instituições particulares de ponta eles ainda não passam de 20%.

No ano passado, apenas 7% dos alunos de graduação do Insper eram negros. Por isso, a instituição decidiu reformular seu programa de diversidade. Além de mudar a forma de divulgar as bolsas de estudo, também passou a ofertar auxílio financeiro para moradia.

Ela ainda passou a pagar bolsa de estudos para alunos de um cursinho pré-vestibular voltado para estudantes de baixa renda.

“A gente ofertava as bolsas para a graduação, mas elas não eram preenchidas. Os alunos negros não se interessavam e a gente não sabia o motivo. Até que percebemos que o erro estava na nossa forma de acessá-los, precisamos mostrar que o Insper é um espaço para eles”, diz Ana Carolina Velasco, gerente de relacionamento institucional do Insper.

A cada semestre o Insper vai passar a ofertar 40 bolsas de estudo para a graduação -27 são integrais e com auxílio moradia. Parte das bolsas são voltadas para algum grupo específico, por exemplo, para uma mulher negra estudar em algum curso de exatas.

“Nós temos um fundo para bancar essas bolsas. Até o ano passado, as doações eram feitas sem nenhuma especificação. Agora, as empresas doam o dinheiro e declaram para qual tipo de bolsa querem que seja aplicado, como é o caso desse especificamente para mulheres negras.”

Velasco avalia que as doações específicas são resultado de conscientização das empresas. Se querem aumentar a diversidade no seu quadro de funcionários, elas precisam ajudar na formação de grupos historicamente excluídos do ensino superior.

A PUC-SP também tem trabalhado com empresas em busca de novas ações para aumentar a inclusão de negros nas universidades e no mercado de trabalho. Entre os seus alunos de graduação, apenas 14% são negros.

“Como as ações do estado cada vez são menores, a atuação das instituições filantrópicas acaba sendo a única forma de preencher essa lacuna e evitar uma exclusão ainda maior. Passamos a fazer as vezes do estado, ainda que nossa condição seja muito menor”, diz Ana Paula Maciel, presidente da comissão de filantropia da Fundação São Paulo, mantenedora da PUC.

No último ano, as principais ações de acesso ao ensino superior do país tiveram quedas históricas e atingiram o menor patamar da década. O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) teve o menor número de inscrições e os programas Fies e Prouni chegaram ao menor nível de alunos contemplados.

Para evitar que o enfraquecimento das políticas públicas afetem o quadro da universidade, a PUC manteve a oferta de bolsas integrais ou parciais para 20% das vagas abertas, independentemente de serem ofertadas pelo Prouni. Dessas, 30% são para candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas. Durante a pandemia, a instituição deu cestas básicas, computador e pacote de dados a esses estudantes.

Na FGV, não há nenhuma ação específica para aumentar a presença de alunos negros, que ocupam 20% das vagas da instituição. A aposta para maior diversidade tem sido em ampliar as formas de seleção, como a aprovação de estudantes medalhistas em olimpíadas de conhecimento, e no fortalecimento de cursinhos populares.

“Não temos cota, mas fortalecemos o nosso programa de busca de estudantes. Nossa atuação é para qualificar estudantes de ensino médio para que possam estudar na FGV, independentemente de sua condição econômica. Ao entrar aqui, garantimos que ninguém vai deixar de estudar por falta de dinheiro”, diz Antonio Freitas, pró-reitor da instituição.

Fonte: Folha de S. Paulo

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