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Alunos com deficiência estão cada vez mais presentes no ensino superior, segundo os dados mais atualizados do Inep. Enquanto as matrículas gerais cresceram 7% nos últimos cinco anos, as matrículas de estudantes com necessidades especiais subiram 27%. O problema é que, não é raro, estes alunos ainda enfrentam dificuldades de acessibilidade em plataformas e conteúdos utilizados em aulas virtuais.

Segundo a conselheira da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), Karina Tomelin, o aumento no número de matrículas não foi suficientemente acompanhado pelo desenvolvimento de políticas institucionais, sistemas pedagógicos e núcleos de acolhimento voltados aos alunos com algum tipo de deficiência.

“A maioria das instituições de ensino superior (IES) não adota como prática a implementação de políticas de inclusão para que a acessibilidade aconteça com naturalidade dentro da cultura organizacional”, afirma Tomelin. Para ela, isso faz parte de uma lógica reativa vigente nas IES, que ainda estruturam mecanismos de acessibilidade apenas a partir da demanda dos alunos.

A expansão do ensino a distância (EaD) e das aulas remotas durante a pandemia tornou o problema mais complexo. Diversas tecnologias e materiais virtuais não têm recursos de acessibilidade. Dessa maneira, os estudantes com deficiência, embora integrados, ainda não estão completamente incluídos no ensino superior.

Este guia aponta quais são as falhas mais comuns em instituições, plataformas e conteúdos durante o atendimento a esse público. Além disso, aponta iniciativas fundamentais para reverter o quadro e promover uma educação digital mais acessível para os cerca de 40 mil alunos com necessidades especiais matriculados em cursos de graduação no Brasil.

Brisa Teixeira é audiodescritora, revisora e designer instrucional. Ela concorda com Tomelin, da ABED: o principal entrave à acessibilidade em aulas virtuais no ensino superior é que muitas IES não planejam ações nesse quesito durante a criação dos seus cursos.

“O que normalmente acontece é a adaptação do curso depois de pronto “, confirma Teixeira, que é fundadora da Tic Tag, uma empresa especializada em serviços de comunicação e acessibilidade na área da educação. “Parte do desafio está em destinar verbas do orçamento para dar conta de um trabalho responsável em termos de acessibilidade”, completa.

A ausência de políticas institucionais perenes de acessibilidade se reflete em erros na escolha e desenvolvimento de tecnologias, plataformas e conteúdos para a educação a distância. Nesse sentido, Teixeira e Tomelin elencam as quais as falhas mais frequentes.

Promover a acessibilidade no ensino superior depende de uma série de fatores. Entre eles, o uso de tecnologias adequadas, capacitação contínua de professores, acolhimento dos estudantes e alinhamento pedagógico.

O primeiro passo, entretanto, é a escuta. Os núcleos de acolhimento funcionam para mapear os alunos com deficiência e escutá-los desde o momento da matrícula, identificando necessidades individuais.

“Quando falamos de inclusão, cada aluno com deficiência precisa ser visto como um universo à parte. É fundamental conhecê-lo antes de montar uma aula virtual”, destaca Tomelin. “O acompanhamento individualizado visa entender como ele aprende melhor, quais necessidades tem e quais recursos julga mais importantes.”

De acordo com Teixeira, o ideal é que as IES contratem ou contem com equipes internas dedicadas ao atendimento especializado e individualizado. A inclusão de pessoas com deficiência nessas equipes é primordial para validar materiais didáticos, como as videoaulas. Os demais integrantes devem ter formação em audiodescrição, em Libras e legendas para surdos e ensurdecidos.

Outro ponto importante diz respeito ao treinamento de professores . Segundo Tomelin, as capacitações, assim como outras ações de acessibilidade, devem trabalhar a partir do conceito de design universal de aprendizagem.

“O design universal de aprendizagem propõe tratar a acessibilidade como algo não exclusivo. Ou seja, pensar em soluções e estratégias que vão ajudar alunos com deficiência, mas que podem apoiar qualquer aluno”, explica. Por exemplo, a disponibilização de audiobooks, recursos de ampliação de fonte e modo noturno.

As tecnologias assistivas cumprem um papel decisivo no apoio à acessibilidade das aulas virtuais. Estamos falando de recursos, produtos e serviços que ampliam as habilidades funcionais dos alunos com deficiência.

Um exemplo é o Hand Talk. Este aplicativo adotado pela Sagah traduz automaticamente para Libras qualquer conteúdo em áudio, texto, foto ou vídeo exibido na tela de um computador, tablet ou smartphone. Funciona como um intérprete virtual representado por um personagem chamado Hugo.

Por fim, para garantir a acessibilidade universal e atitudinal, Teixeira e Tomelin indicam a presença de alguns recursos.

Fonte: Desafios da Educação

 

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