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Apesar de estados do Sudeste, como São Paulo, liderarem o Ioeb (Índice de Oportunidades da Educação Brasil), a região Nordeste foi a que mais avançou em relação aos resultados de 2017. Os dados serão divulgados pela Comunidade Educativa Cedac, que faz a gestão do indicador.

Alagoas, Ceará, Piauí e Bahia, por exemplo, são responsáveis por quase metade dos 500 municípios que avançaram no indicador. Ao todo, o Nordeste reuniu 70% dos municípios que mais tiveram crescimento no Ioeb. Já o Sudeste tem apenas 11% das cidades com os maiores crescimentos. No Sul, são apenas 9%.

Para chegar ao Ioeb 2021, foram usadas informações do Censo Escolar e do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2019, ou seja, números de antes da pandemia, além de dados de formação dos professores e oferta de vagas na educação infantil.

“Quando a cidade está em um patamar mais baixo, é mais fácil melhorar, mas, quando vemos isso se repetir ao longo dos anos, podemos falar também que aquele lugar tem feito políticas agressivas no aprimoramento das oportunidades”, explica Ana Lima, cofundadora da Conhecimento Social e parceira técnica nas análises do Ioeb.

Segundo ela, o avanço se torna mais desafiador para estados como São Paulo, porque não é preciso garantir condições mínimas, como acesso à escola, mas se aprofundar nas questões educacionais. “Por um lado você está num bom patamar, mas tem um desafio político e ético de continuar avançando”.

O Ioeb nacional ficou em 5,02, um aumento de 0,2 ponto em relação aos números da última edição, quando teve 4,85.

“O indicador é usado para olhar as oportunidades da educação para crianças e jovens para além da nota do Ideb. Pode-se pensar no Ioeb como um provocador de articulações intersetoriais e institucionais que se corresponsabilizam pela educação”, afirma a diretora-presidente da Cedac, Tereza Perez.

Tereza exemplifica o objetivo do indicador com uma frase usada no livro O Berço da Desigualdade, de Cristovam Buarque e Sebastião Salgado: “O berço da desigualdade está na desigualdade do berço”.

O Ceará, segundo Ana Lima, é um dos estados que têm mostrado fortalecimento de suas políticas. “É interessante observar que o Ceará não cresceu só nas grandes cidades, mas no conjunto dos municípios, e existe uma estratégia de crescer em equidade”, afirma.

Hoje, o Ioeb do estado ficou em 5,5 – de uma escala de 0 a 10. O de São Paulo está em 5,7. Os bons resultados não são refletidos apenas nesse indicador. Em 2005, o resultado do Ideb do Ceará nos anos iniciais foi de 2,8, mas em 2019 chegou a 6,3 – ultrapassando a meta de 6,0 sugerida ao Brasil em 2022 pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

O estado tem um sistema focado em alfabetizar na idade certa, evitar evasão escolar, valorizar professores e dar apoio financeiro aos municípios. A cidade de Sobral é um dos grandes destaques – o Ioeb de 2021 dela ficou em 6,7.

A economista Fabiana de Felício, uma das criadoras do Ioeb, ressalta que o efeito de crescimento vale mais aos estados do que para a região. “Importante lembrar também que os nossos estados com melhores resultados não estão com notas muito boas, principalmente quando comparamos em avaliações internacionais como o Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Estudantes]. Estamos aquém”.

Apesar dos municípios do Sudeste e Sul não apresentarem um crescimento significativo, eles ainda são responsáveis pelos maiores índices. Segundo os dados da Cedac, 32% das cidades paulistas estão entre os municípios com maiores resultados do indicador. O Ceará tem 26%, e o Paraná, 20%.

Para algumas cidades paulistas e estados como São Paulo, o indicador usa uma classificação de atenção. “Isso significa que ele tem um bom resultado, mas não evoluiu acima da média”, explica Ana.

Tereza afirma também que os avanços nos últimos anos se deram graças a uma tomada de consciência do papel da educação. “O olhar dos poderes públicos deve continuar mais atento após o período da pandemia”.

Para Tereza, os próximos meses e anos serão momentos dos estados e municípios pensarem em qual perfil de aluno querem formar. “Não posso mais reduzir a educação sobre formar um aluno apenas para universidade. Preciso pensar nesse desenvolvimento integral, entendendo tudo o que aconteceu nesse período de pandemia”, explica.

O foco, segundo ela, deve ser na gestão democrática, desde a escola até a Secretaria de Educação e a formação dos professores.

Ana ressalta que é preciso ter cuidado para que os avanços tidos até aqui não se percam. “O problema não é só de quem tem filho na escola, o retrocesso desses dados positivos é um preço que a gente paga. A gente paga como país”, afirma.

A inação do MEC (Ministério da Educação) nesse processo é outro ponto destacado por Tereza. Ela disse ser esperado, por exemplo, a definição de políticas macros e subsídios aos municípios durante esse período.

“Falta ter um sistema nacional para a educação. A saúde se segurou durante a pandemia com o SUS (Sistema Único de Saúde) e precisamos disso para educação”, diz.

Fonte: Portal UOL

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