Houve uma grande diminuição no número de estágios no Brasil no período da pandemia. Até o começo de 2020, antes de sermos acometidos pela crise do novo coronavírus, o Brasil tinha cerca de 1 milhão de estagiários espalhados pelo território nacional. Em 2021, verificou-se uma redução de 10% e, agora, apenas 900 mil estudantes conseguem uma oportunidade desse formato, segundo a Associação Brasileira de Estágios (ABRES).
Os estágios são parte fundamental na formação profissional de qualquer estudante. É nessa fase que os jovens adquirem experiência de campo e aprendem como funciona a dinâmica das relações de trabalho em sua profissão e colocam em prática os conhecimentos adquiridos ao longo do curso técnico ou superior.
No entanto, com a chegada da pandemia e a flexibilização do ensino presencial, tornou-se mais difícil a prática tradicional dos processos de efetivação de estagiários. As barreiras implicadas pelo isolamento social criaram novos desafios para empresas e estudantes em todos os níveis, sobretudo para a posição “de base” do estagiário, na qual o contato com novas ferramentas pode ser dificultado num regime novo para todos.
Causas e soluções
Marcelo Gallo, superintendente Nacional de Operações do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), atribui esse índice às questões econômicas que afetaram fortemente alguns setores, como Serviços, por exemplo. “As empresas tinham orçamentos que acabaram ficando comprometidos com a queda de suas receitas, o que muitas vezes obrigou que reduzissem seus quadros de recursos humanos e/ou adiassem suas contratações, incluindo os programas de estágio”, afirma Gallo.
Muitas empresas, porém, conseguiram adaptar-se à nova realidade e implementaram regimes alternativos. Segundo Gallo, houve uma evolução crescente do número de oportunidades para o estágio 100% remoto ou híbrido. “Muitas empresas se adaptaram ao trabalho remoto, o que acabou refletindo também nas oportunidades de estágio. Nestes casos, o contato do supervisor com o estagiário é feito remotamente, através de videoconferência, vídeo chamadas, mensagens por Whatsapp, entre outras”.
“Entendemos que essa tendência veio para ficar e pode ser uma oportunidade interessante para os estagiários, evitando perda de tempo com deslocamento no trânsito, de sua casa para a empresa e da empresa para a instituição de ensino, o que vai acabar liberando um tempo maior para os estudos”, completa Marcelo.
Abaixo, segue uma relação dos dados do número de vagas de estágios abertas via CIEE por mês/ano. A partir dele, nota-se uma grande redução (em comparação ao ano anterior) no número de vagas a partir do mês de março de 2020, quando as medidas de combate à pandemia começaram a ser implementadas no país.
2019 | 2020 | |
JAN | 30.100 | 31.800 |
FEV | 34.100 | 33.100 |
MAR | 26.700 | 23.700 |
ABR | 26.000 | 4.200 |
MAI | 27.900 | 4.600 |
JUN | 20.100 | 8.400 |
JUL | 25.200 | 11.400 |
AGO | 26.800 | 14.100 |
SET | 23.100 | 15.300 |
OUT | 24.000 | 15.400 |
NOV | 22.300 | 15.600 |
DEZ | 16.100 | 13.400 |
Alternativas
Os programas de estágio têm o papel de “porta de entrada” dos alunos no meio profissional. A ausência desse contato primordial com o trabalho pode ser uma perda de experiências valiosas para a construção dos novos profissionais no mercado.
Na opinião de Gallo, há outras atividades alternativas que podem atenuar a ausência deste programa, entre as quais estão a participação em seminários e conferências (mesmo que virtualmente) e conhecer e praticar as principais ferramentas de informática exigidas pela futura profissão: “Se possível, entrevistar profissionais da área que se pretende trabalhar; [fazer] pesquisas na internet sobre a área profissional (vídeos no YouTube, pesquisas no Google, assistir reportagens etc.); manter-se sempre bem informado sobre as novas tecnologias que surgem ou que são tendência para o setor em que se pretende trabalhar e manter-se bem informado sobre diversos assuntos, como economia, política, entre outros, pois sempre acabam interferindo positiva ou negativamente em diversas questões sociais e também no mundo do trabalho.”
Fonte: Revista Ensino Superior