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É crescente o interesse entre pessoas de dentro e de fora do mercado, em meio à alta da concorrência entre bancos e plataformas de investimentos e entre os candidatos. Confira a seguir quais são as áreas que mais avançam e veja conselhos para se dar bem.

Aos 19 anos, Guilherme Santos é o mais jovem aprovado em uma certificação da Anbima, associação que representa o mercado de capitais e de investimentos, com emprego em uma instituição financeira. Ele quis trabalhar na área assistindo aos vídeos de influenciadores como Thiago Nigro e Tiago Reis. Guilherme ainda é estagiário em um grande banco, mas já caminha para alcançar o terceiro certificado do setor. “Quero experimentar de tudo um pouco e ajudar as pessoas a investir melhor”, conta.

Além de ser uma marca pessoal, a história dele é um exemplo sintomático de um fenômeno que acontece no mercado financeiro. Cresce a busca pela carreira na área, em meio à alta da concorrência entre bancos e plataformas de investimentos, além do aumento da produção de conteúdo sobre finanças e do avanço do número de pessoas investindo fora da poupança. Cresce a procura por certificações do setor entre pessoas de dentro e de fora do mercado, como estudantes ou pessoas que desejam mudar de setor.

Além de terem licença para atuar, os candidatos tentam se qualificar para serem escolhidos em meio à disputa pelas melhores vagas. Há casas que exigem certificados além do mínimo necessário para empregar e já houve casos de instituições financeiras que roubaram da concorrência equipes inteiras com pessoas certificadas.

Aos 14 anos, Leonardo de Gomes é o mais jovem aprovado na CEA, certificação para atuar como especialista em investimentos, de nível avançado da Anbima. “Ainda não comecei a investir, mas tenho curiosidade sobre esse assunto, vejo muitos vídeos”, conta.

A CEA é o certificado da entidade cuja busca mais sobe. O número de pessoas com a certificação ativa saltou 39% entre 2015 e 2020 e chegou a 12 mil.

“A CEA está explodindo, ligada ao crescimento rápido desse mundo de investimentos, à queda de juros e à migração de investidores para ativos de mais risco”, afirma Marcelo Billi, superintendente da área de certificação da Anbima. “A demanda por esses profissionais tem crescido e o interesse de pessoas que desejam ser especialistas de investimentos também.”

Além da CEA, a entidade dá a CPA-10 e a CPA-20, portas de entrada para vender produtos, e a CGA, para gestores de fundos de investimentos. Ao todo, são 12 mil exames feitos por mês. Para conseguir aprovação nos exames, há candidatos que estudam sozinhos, com a ajuda de simulados e vídeos na internet, e há aqueles que fazem cursos preparatórios.

Contudo, apenas cerca de metade dos candidatos são aprovados. Por causa disso, há manifestações de ódio à Anbima nas redes sociais. Em compensação, as pessoas também celebram as aprovações em textos no LinkedIn.

” A responsabilidade desses profissionais é muito grande. Eles estão na ponta, vendendo produtos que têm impacto muito prolongado na vida das pessoas. É importante checar se eles estão minimamente preparados”, diz Billi. A prova é elaborada por um grupo de especialistas, formado por acadêmicos e profissionais experientes.

Lucy Sousa, presidente executiva da Apimec, associação que representa os analistas independentes de investimentos, que recomendam ou contraindicam ativos, também destaca a grande responsabilidade desses profissionais.

“É uma carreira que tem cada vez mais reconhecimento no mercado brasileiro e internacional. O candidato precisa estar ligado na conjuntura econômica e nas demandas do mercado e tem que ser uma pessoa de mente aberta, para fazer recomendações técnicas e não políticas”, afirma.

De longe, a carreira do mercado financeiro que mais acelera é a de agente autônomo, também conhecido como assessor de investimentos. Esse profissional é vinculado a uma corretora, vende produtos dela e ganha comissões por isso, parecido com um corretor de seguros. Ele pode tirar dúvidas sobre as aplicações financeiras, mas não pode sugerir investimentos.

Há 12,2 mil agentes autônomos vinculados a corretoras, o dobro em comparação há apenas dois anos, conforme a Ancord, associação que representa as corretoras e que dá a certificação AAI, para ser agente autônomo. A maior parcela são homens com entre 26 e 35 anos, com ensino superior completo.

“Estamos caminhando para 2021 ser o ano em que vamos dar mais certificações para ser agente autônomo, em meio à pandemia”, afirma Orlando Júnior, responsável pela área de certificação e credenciamento da Ancord. “Acho que isso tem muito a ver com a busca pelo conhecimento e com as lives de influenciadores, algumas com 70 mil pessoas assistindo. É muita gente querendo saber de investimentos e isso acaba atraindo pessoas para esse mercado.”

Na pandemia, a entidade começou a realizar provas on-line para atender a demanda. Boa parte dos que procuram pelo certificado são ex-funcionários de bancos, que perderam emprego com o fechamento das agências e veem oportunidade na carreira de agente autônomo. Outra parcela são estudantes ou recém-formados, não necessariamente da área de economia. “As próprias corretoras têm criado estruturas para treinar esse público”, afirma Júnior.

A CFP, única certificação que é apenas uma distinção, não uma exigência para atuar, também está em alta com o aumento da concorrência entre os profissionais e as instituições financeiras. O certificado é um selo de planejador financeiro qualificado, buscado cada vez mais por outros profissionais, principalmente agentes autônomos e especialistas de investimentos de bancos que atendem clientes de alta renda.

Há 6,1 mil CFPs no Brasil, o dobro de cinco anos atrás, e 63% atuam dentro de bancos. ” Somos o quinto país no ranking global de CFPs. Os gringos querem saber o que estamos fazendo”, diz Márcia Dessen, integrante do conselho de administração e da comissão de certificação da Planejar, associação que representa os planejadores financeiros e que dá a CFP.

Ela afirma que a certificação é o que diferencia um profissional do outro e, em alguns casos, é o que abre a porta do mercado de trabalho. “É muito importante o consumidor final saber que deve ser atendido por uma pessoa que tem qualificação e as corretoras acabam exigindo para não perder competitividade”, diz.

Com tantas alternativas de carreiras e certificações, afinal, qual escolher e como se destacar? Atualmente, há demanda especialmente pelas certificações CFP e CFA, a certificação gringa mais importante para trabalhar com investimentos, de acordo com Ana Carla Guimarães, gerente de recrutamento da consultoria de recursos humanos Robert Half.

“As mais aquecidas são essas, mas não quer dizer que outras não sejam igualmente importantes para determinadas cadeiras, de ciências atuariais e seguros, por exemplo”, afirma.

Ela diz que a inovação digital dentro do mercado financeiro está ganhando forma e, por isso, profissionais qualificados nessa área chamam a atenção.

“Aquele que está entrando agora, além de ter as certificações clássicas, precisa estar antenado em conhecimentos que desmistifiquem o mundo digital. O cara de crédito do banco não é o mesmo cara de crédito de banco digital, por exemplo”, aconselha. Assim, Guimarães indica fazer uma especialização em inovação tecnológica ou programação.

Além disso, a gerente de recrutamento recomenda que o candidato tenha visão de empreendedor, até mesmo dentro de uma grande instituição financeira. “É como se ele fosse dono do negócio. Ele não pode achar que o resultado vai vir de qualquer jeito. A pessoa que se dá bem no mercado financeiro tem exigência extra em comparação a outros segmentos “, afirma.

Fonte: Valor Investe

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